Revista do Farmacêutico 111 - Especial

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PUBLICAÇÃO DO CONSELHO REGIONAL DE FARMÁCIA DO ESTADO DE SÃO PAULO
Nº 111 - ABR - MAI - JUN / 2013

Revista 111 setinha Especial


Foco no doente, não na doença

Com a possibilidade de registro dos produtos da Medicina Tradicional Chinesa no Brasil, um novo campo se abre ao farmacêutico

Foto: Arquivo pessoal

No Brasil, se alguém recomendasse a uma pessoa que fez cirurgia tomar um mix de ervas que estimula a regeneração do tecido e fortalece o sistema imunológico, no lugar de antimicrobianos, com certeza haveria certa desconfiança, devido ao desconhecimento da ação dos fitoterápicos. No entanto, na China, a prática é extremamente comum e utilizada hoje, assim como há milhares de anos. 

A Consulta Pública nº 15, de 14/05/13, visa regulamentar os produtos utilizados na Medicina Tradicional Chinesa (MTC) e que não estão contemplados no regulamento sanitário brasileiro. Esse é o primeiro passo para que a população tenha acesso a tratamentos com os produtos da MTC e abre portas para uma área que requer conhecimentos do farmacêutico especialista em acupuntura e medicina chinesa, profissional com perfil para essa atividade, por ser conhecedor de farmacologia, farmacodinâmica, farmocotécnica, além de interagir com o paciente. 

Foto: Arquivo pessoal
Enfermeira chinesa injeta ervas no soro de paciente recém-operada para fortalecer o sistema imunológico e estimular a regeneração do tecido (Foto: Arquivo pessoal)

A MTC difere da medicina alopática quando foca no paciente e não na doença. As técnicas são firmadas no equilíbrio energético do corpo, fortalecendo o organismo e tratando o mal. Quando se fala em “canais de energia”, algumas pessoas podem pensar que se tratam de superstições sem caráter científico. No entanto, a medicina oriental possui bases científicas diferentes da ciência contemporânea ocidental. Trata-se de uma ciência empírica embasada em um rico conteúdo e uma longa história de observações e experimentações clínicas.

A acupuntura é uma das especialidades mais utilizadas da MTC, que também abrange a Tui Na, massoterapia chinesa; o Qi Gong, exercícios terapêuticos e a Dietoterapia, que trata os desequilíbrios por meio dos alimentos. Além disso, a fitoterapia chinesa, utilizada sozinha ou de forma complementar.  

No Brasil, desde 1998, laboratórios chineses tentam o registro de produtos, mas esbarram na falta de legislação para que esses fitoterápicos sejam enquadrados, já que envolvem matérias-primas de origem vegetal, mineral e animal. Esta última não está contemplada na consulta pública da Anvisa, mas os especialistas solicitarão que  a Agência reconsidere esse item.  

Foto: Thais Noronha
O farmacêutico dr. Paulo Varanda será ministrante do curso oferecido gratuitamente pelo CRF-SP (Foto: Thais Noronha)

Com a regulamentação do registro, até os municípios poderão ter amparo legal para comprar os produtos e oferecê-los aos pacientes do SUS, por meio da Portaria 971/06, que implementa a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares. 

Segundo o dr. Paulo Varanda,  da Comissão Intersetorial das PICs no Conselho Nacional de Saúde, os produtos da MTC trabalham o fortalecimento e o controle das funções normais do corpo. “A doença é uma perda de equilíbrio interno entre os órgãos e vísceras. Uma depressão vem por uma estagnação da energia do fígado, uma mucosidade interna que faz com que a energia não circule direito. Um fitoterápico trabalha o equilíbrio funcional para chegar na causa e resolver o problema com a visão do todo.” 

Para o dr. Paulo, também presidente da Sociedade Brasileira de Farmacêuticos Acupunturistas, Sobrafa, pesquisador CNPq–USP e professor de acupuntura, os fitoterápicos atuam com eficácia para pessoas em tratamento com quimioterápicos. “A sensação de bem-estar faz com que o organismo reaja melhor aos medicamentos, além de atuar na melhoria dos efeitos colaterais e resposta imunológica.”  

O caso relatado no início foi acompanhado pelo dr. Paulo na China. A paciente não tomou antimicrobianos antes ou depois da cirurgia. “A enfermeira injetou duas seringas de ervas no soro da paciente. Algumas ervas estimulam a regeneração do tecido”. O fortalecimento do sistema imunológico não propicia o ambiente para a proliferação da bactéria, ou seja, sem condições adequadas, não há infecção. 

O coordenador da Comissão Assessora de Acupuntura do CRF-SP, dr. José Trezza Netto, acredita que não será fácil a utilização dos produtos da MTC no Brasil uma vez que eles são muito pouco conhecidos por grande parte da população. “Sua utilização no momento ocorre pela indicação destes produtos por alguém que tenha conhecimento de fitoterapia e acupuntura, o que é representado por poucos profissionais. Será necessária uma divulgação ampla nos meios de comunicação para tentar popularizar estes produtos no nosso mercado”.

Práticas que integram a medicina tradicional chinesa 

Acupuntura - que pode englobar moxabustão, ventosaterapia, sangria, eletroacupuntura, laserterapia, colorpuntura, auriculoterapia chinesa, auriculoterapia francesa, magnetoterapia) - Resolução 516/09 do Conselho Federal de Farmácia 

Inject Points - aplicação de algumas gotas de substâncias nos pontos de acupuntura (Ex. Procaína, vitaminas, etc) - sem regulamentação no Brasil 

Fitoterapia chinesa - em Consulta Pública na Agência Nacional de Vigilância Sanitária até 19 de agosto (CP nº 15, de 14 de maio de 2013) 

Tui Na - massoterapia chinesa (sem regulamentação no Brasil) 

Qi Gong - Exercícios terapêuticos (sem regulamentação no Brasil) 

Dietoterapia - trata os desequilíbrios por meio dos alimentos (sem regulamentação no Brasil)

Melhora comprovada

Paciente do dr. Paulo, o cirurgião dentista dr. Marco Antonio de Lima, após sofrer uma protusão discal, além da fisioterapia, adotou a acupuntura para diminuir as dores na coluna. “Pela minha postura de trabalho, é comum que venham as dores. Foi a acupuntura que me ajudou na questão do bem-estar”.  

Com o sucesso do tratamento, dr. Marco Antonio buscou novamente a MTC após constatar, aos 53 anos, um quadro de hiperplasia prostática. “Passei a ter uma frequência urinária maior, o que me incomodava. O tratamento, que realizo há um ano, melhorou não somente esta frequência, mas refletiu no meu índice de PSA, que diminuiu sensivelmente, assim como o tamanho da minha próstata.”

Além disso, no início do tratamento, os exames do dr. Marco diagnosticaram uma patologia comum aos profissionais de saúde: a bexiga de esforço. “Por falta de tempo, é comum segurarmos a urina, o que prejudica nossa saúde.” No entanto, nos exames mais recentes, o cirurgião dentista teve mais uma boa surpresa: a bexiga de esforço sumiu.

Nas mãos do farmacêutico

O farmacêutico é o único profissional com habilidade técnica e legal para a dispensação das fórmulas chinesas nas farmácias e drogarias. Para atender à demanda, é fundamental que o farmacêutico se prepare. O conhecimento se torna necessário por conta da manutenção da nomenclatura dos produtos em chinês.  

Aos farmacêuticos que pretendem ter uma noção dos fundamentos da MTC, o CRF-SP irá oferecer um curso gratuito, ministrado pelo dr. Paulo Varanda, com oito horas de duração. Entre os tópicos estão os conceitos de Yin Yang, 5 Elementos, Sistemas de Órgãos e Vísceras e Síndromes Energéticas.  As informações estarão disponíveis em breve no portal www.crfsp.org.br.

Aos profissionais que desejam se aprofundar no assunto, o ideal é um curso de pós-graduação em acupuntura ou em MTC, que pode durar até dois anos para que o farmacêutico possa ter condições de avaliar o paciente, dar um diagnóstico energético e fazer a indicação dos produtos.

Ervas isoladas e suas aplicações na medicina tradicional chinesa

Thais Noronha, colaborou Mônica Neri

 

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