ESTABELECIMENTOS REGISTRADOS

PROFISSIONAIS INSCRITOS ATIVOS

Revista do Farmacêutico

PUBLICAÇÃO DO CONSELHO REGIONAL DE FARMÁCIA DO ESTADO DE SÃO PAULO
Nº 125 - MAR - ABR / 2016

PERFIL - DR. JOSÉ CARLOS BARBÉRIO

  

Dr. José Carlos Barbério

 

O missionário da Radiofarmácia

Aos 84 anos, dr. Barbério continua trabalhando pela categoria farmacêutica

 

Ele nasceu em São Carlos, interior de São Paulo, mas foi no bairro da Liberdade, na capital, que dr. José Carlos Barbério passou a maior parte da vida. O farmacêutico, pioneiro na produção de radiofármacos no Brasil, foi diretor e professor titular da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo (USP) e, atualmente, aos 84 anos, é presidente do Instituto de Ensino e Pesquisa na área da Saúde (Iepas) e diretor do Sindicato dos Hospitais, Clínicas e Casas de Saúde no Estado de São Paulo (Sindhosp) e da Fehoesp. 

Caçula de nove irmãos, ainda menino, passou a interessar-se por química. “Gostava de ficar no microscópio e ver os bichinhos”, diz. Os primeiros estágios foram na adolescência, quando foi nomeado técnico de laboratório da USP, o que o levou a apaixonar-se ainda mais por química. “Aprendi a ter responsabilidade porque um colega e eu preparávamos as aulas práticas para 80 alunos. Era uma pequena bandeja com a aula do dia. Lá se faziam todos os exames de laboratórios, glicose, ureia, creatinina, ácido úrico. Aprendi e tomei gosto por fazer esses exames”.

Dr. Barbério apresentando sua tese de doutoradoDr. Barbério apresentando sua tese de doutoradoPrestou vestibular para medicina em 1952, mas não foi classificado. Para não perder tempo, fez o exame para o curso de Farmácia e foi aprovado. No primeiro ano, se entusiasmou pelas aulas de botânica, física, química orgânica e inorgânica, disciplinas que caíam no exame de Medicina. No entanto, quando chegaram as férias de julho, o que seria apenas uma preparação para prestar o vestibular para Medicina tornou-se a escolha para uma vida inteira. “Não quis saber de mais nada, Farmácia era o que eu queria”.

Após se formar, em 1956, recebeu o convite para trabalhar no Instituto de Energia Atômica, atual Ipen, como assistente. “Fui convidado pelo professor Rômulo Pieroni, que era um misto de médico e físico, mas eu pouco sabia sobre energia nuclear. Me deu um livro sobre o assunto em inglês, e, em não mais do que 15 dias, o procurei e assumi as funções”. 

O trabalho concentrou-se na divisão de radiobiologia, onde lidava diretamente com materiais e substâncias radioativas, aí surgiu o interesse pela radiofarmácia, já que o Instituto era pioneiro na fabricação dos medicamentos de medicina nuclear no Brasil. “Em 1971, foi construído o prédio da radiofarmácia no Instituto e assumi a chefia dessa divisão, cargo em que fiquei até 1977, quando fiz o concurso para professor titular da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP”.

 

30 ANOS DE ACADEMIA

Dr. Barbério como professor na Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USPDr. Barbério como professor na Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USPParalelamente à carreira que envolvia a energia nuclear, em 1958, dr. Barbério foi convidado a ser professor assistente na USP, nas disciplinas de Ciência dos Alimentos e Toxicologia. Após o doutorado em Farmacologia, assumiu a disciplina de metodologia de aplicações de radioisótopos. “Fiz o concurso para livre docência, em 1973, para professor associado em 1976 e para titular em 1978. As teses sempre eram utilizando marcadores radioativos”.

Em 1978, foi conduzido pelo reitor da USP à diretoria da Faculdade de Ciências Farmacêuticas, onde esteve por quatro anos. A gratidão, ele contempla ao ver, hoje, os bons alunos que também se tornaram professores, muitos até já estão aposentados. 

 

TÉCNICA INOVADORA

Como se não bastasse a atividade profissional dentro da universidade, dr. Barbério fundou, em 1973, com um endocrinologista, um laboratório para dosagem de hormônios. “Desenvolvemos a técnica radioativa chamada radioimunoensaio, um avanço nas dosagens”. Foram 30 anos de trabalho nessa área. Primeiros instantes do mapeamento de órgãos em 1959. Início da medicina nuclear no BrasilPrimeiros instantes do mapeamento de órgãos em 1959. Início da medicina nuclear no BrasilO laboratório Criesp, ao qual se dedicou até 2002, foi considerado como padrão dentro da área de radioimunoensaio por sua qualidade e respeitabilidade entre os laboratórios que enviavam amostras e mesmo entre os médicos, que o consideravam o de melhor aceitação dentro de sua especialidade. 

Em 1975, em razão de exigência da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), os profissionais que desejavam realizar dosagens hormonais, utilizando-se de material radioativo - a técnica de radioimunoensaio -, deveriam ter a certificação “in vitro” para tal realização. Cursos foram realizados pelo Brasil para esse treinamento e o professor Barbério ministrou a maioria deles, de cerca de 90 a 120 horas, principalmente para farmacêuticos bioquímicos. Tais cursos renderam-lhe a alcunha de “Barbério, o mascate da radioatividade”. 

 

 

APOSENTADORIA NA ATIVA

A aposentadoria veio em 1986, mas quem apostou que dr. Barbério pararia de trabalhar se enganou. Em 1998, foi convidado a colaborar com o Sindhosp e com a Fehoesp no suporte a congressos e eventos. Em 2009, assumiu o Iepas e a evolução foi tão grande que, em 2015, foram 140 cursos oferecidos para trabalhadores de hospitais, clínicas e laboratórios do Estado de São Paulo. “Atualmente, estamos com um programa chamado Bússola, destinado a certificar clínicas do ponto de vista da qualidade e educação e vamos fazer, em parceria com a Fundação São Camilo, o MBA em direito sanitário, voltado a todos os profissionais da área da saúde e advogados”.

Em meio a tantas atividades, dr. Barbério, em 1972 e 1973, foi secretário-geral do Conselho Federal de Farmácia, período em que acumulou grande experiência nas questões profissionais, principalmente nos setores éticos e educacionais da profissão farmacêutica. Presidiu a Associação Brasileira de Ensino Farmacêutico e Bioquímico (Abenfarbio), por delegação do Ministério da Educação e foi o único não médico a ser presidente da Sociedade Brasileira de Medicina Nuclear. 

 

Por Thais Noronha

 

 

 

     

     

    farmacêutico especialista
    Conteúdo acessível em libras usando o VLibras Widget com opções dos Avatares Ícaro ou Hozana. Conteúdo acessível em libras usando o VLibras Widget com opções dos Avatares Ícaro ou Hozana.