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PROFISSIONAIS INSCRITOS ATIVOS

Revista do Farmacêutico

PUBLICAÇÃO DO CONSELHO REGIONAL DE FARMÁCIA DO ESTADO DE SÃO PAULO
Nº 124 - JAN - FEV / 2016

COMISSÕES ASSESSORAS / FARMÁCIA CLÍNICA

    

Dispensador resiste, mas ficará no passado

País ainda não aproveita potencial de atuação do farmacêutico clínico no controle das doenças crônicas

     

 

02I21080O Brasil está envelhecendo e os números comprovam que, na medida em que esse processo avança, as doenças crônicas não transmissíveis passam a ser o principal desafio do sistema de saúde. Segundo o Instituto Brasileiro de Estatística e Geografia (IBGE), 31% dos brasileiros, em 2010, afirmaram ter pelo menos uma doença crônica.
Envelhecer sem o controle dessas doenças leva a consequências desastrosas e aumenta o custo do sistema de saúde. Alguns números indicam o agravamento do problema: o infarto do miocárdio é responsável por 30% das mortes no país, a diabetes mata mais do que aids e acidentes de trânsito, cerca de 23 pessoas morrem por males do cigarro a cada hora e as mortes por obesidade triplicaram em dez anos.
Para enfrentar esse desafio, a solução pode estar na ampliação dos cuidados preventivos, na melhora da adesão dos pacientes ao tratamento, na disponibilização de mais informação e acompanhamento para o uso adequado de medicamentos e na ampliação dos serviços farmacêuticos clínicos prestados nas farmácias, já regulamentados pelo Conselho Federal de Farmácia.
Contudo, na avaliação do dr. Cassyano J. Correr, professor da Universidade Federal do Paraná e consultor da Associação Brasileiras das Redes de Farmácias e Drogarias (Abrafarma), o Brasil não está cuidando da questão da maneira adequada. “Parece simples, mas não estamos conseguindo fazer isso”, lamentou.
“O sistema de saúde brasileiro foi configurado para tratar doenças agudas. Acontece que esse modelo não funciona para doenças crônicas e exige um modelo de cuidado diferente do estabelecido”, afirmou o especialista em farmácia clínica durante sua apresentação no seminário “Farmácia: que futuro estamos construindo?”, realizado pelo CRF-SP no Dia do Farmacêutico (20/1) como parte do XVI Encontro Paulista de Farmacêuticos.
Apesar do cenário desfavorável, dr. Cassyano discorreu sobre boas experiências como o projeto da Secretaria Municipal de Saúde de Curitiba, em parceria com o Ministério da Saúde, que demonstra um avanço da clínica farmacêutica nos cuidados aos pacientes. Nos últimos dois anos, as unidades de saúde daquele município disponibilizaram mais de 50 consultórios farmacêuticos para a atenção primária à saúde. Foram mais de 2,5 mil consultas, em 2015, principalmente para pacientes polimedicados, com foco na revisão da farmacoterapia, adesão ao tratamento e controle das doenças crônicas. “Além disso, várias redes de farmácias têm investido fortemente na implantação de consultórios farmacêuticos em suas unidades e iniciam a prestação desses novos serviços”, completou o dr. Cassyano.
Ações como esta são vistas com bons olhos, contudo, há limitações que precisam ser superadas. “O perfil do farmacêutico atual ainda é o do dispensador. Mas a dispensação não é o futuro, é o passado da profissão farmacêutica”, comentou o dr. Cassyano, para quem, apesar de ultrapassada, essa ainda deverá ser a realidade da profissão nas próximas décadas.
O dr. Cassyano citou outros campos de atuação que podem aproveitar o potencial de atuação do farmacêutico clínico. Um deles é oferecer acesso a vacinas, uma vez que o Brasil tem problema sério nesse campo. A cobertura vacinal cai drasticamente a partir dos 10 anos de idade e 10 de 15 doenças imunizáveis para adultos não estão disponíveis na rede pública. Exemplo disso é que cerca de 50% dos adultos homens entre 20 e 29 anos estão sem imunização contra hepatite B e 68% das mulheres de 15 a 49 anos estão sem imunização contra a difteria e tétano.
Outro campo que poderia ser melhor explorado são os exames laboratoriais rápidos, ou seja, exames de rastreamento e monitoramento realizados em 20 minutos e que podem ser estruturados a partir de parcerias entre farmácias privadas e laboratórios de análises clínicas. O farmacêutico realizaria os testes e o laboratório emitiria o laudo. “Existe a possibilidade de fazer mais de 50 exames, mas o serviço ainda precisa ser regulamentado pela Anvisa”, completou.

 

Por Carlos Nascimento

 

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VASTO CAMPO DE ATUAÇÃO

 

Veja como o trabalho do farmacêutico pode ser útil no cuidado aos pacientes:

 

 

* 9,1 milhões de pacientes têm diagnóstico de diabetes, 75% não controlam a doença, 11,5% dos brasileiros nunca fizeram teste de glicemia;

 

 

* um em cada três idosos ingere cinco ou mais medicamentos de uso crônico, 82% têm dificuldades de organizar e cumprir o tratamento; 63% dos pacientes com mais de 40 anos usando medicamentos contínuos não têm adesão completa ao tratamento;
* Quando os pacientes adquirem MIPs, 69 % procuram diretamente pelo farmacêutico, 62% pedem que seja recomendado medicamento;
* 15% da população fuma, mais da metade tentou parar nos últimos dois meses e só 8,8 % teve ajuda profissional;
* 51 % dos brasileiros estão com sobrepeso ou obesidade,54% homens e 38% mulheres.

 

 

 

 

 

Fontes: Ibope – Interfarma. Percepções sobre medicamentos (2014); Ministério da Saúde.

   

 

 

     

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