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Revista do Farmacêutico

PUBLICAÇÃO DO CONSELHO REGIONAL DE FARMÁCIA DO ESTADO DE SÃO PAULO
Nº 123 - NOV - DEZ / 2015

COMISSÕES ASSESSORAS / SAÚDE PÚBLICA

 

 

Paciente especial, atendimento idem

Saiba mais sobre a utilização de ferramentas na assistência farmacêutica a portadores de necessidades especiais

  

A atenção farmacêutica pode ser definida como a provisão responsável do tratamento farmacológico com o propósito de alcançar resultados concretos que melhorem a qualidade de vida dos pacientes. É um direito garantido à toda a população.
No entanto, existem pessoas que requerem um atendimento diferenciado, mas que, nem sempre, têm acesso, como é o caso dos pacientes portadores de necessidades especiais.
saude-publicaUm estudo publicado na Revista Eletrônica de Farmácia da Universidade Federal de Goiás (UFG), sobre casos de Síndrome de Down, paralisia cerebral e deficiência mental, apontou que, na maioria dos prontuários analisados, os pacientes apresentam doenças associadas, o que acarreta em alto consumo de medicamentos de uso contínuo (psicotrópicos, por exemplo) e medicamentos descontínuos (em caso de doenças eventuais).
A publicação esclarece que, devido à utilização da grande quantidade e variedade de medicamentos, as pessoas que necessitam de cuidados especiais apresentam maior probabilidade de apresentar problemas relacionados com os medicamentos, como interações medicamentosas, reações adversas, má adesão ao tratamento prescrito, automedicação, efeitos colaterais e o uso incorreto de medicamentos.
Nesse sentido, a assistência farmacêutica voltada a esses pacientes apresenta suma importância, uma vez que o farmacêutico, tendo maior contato com o paciente pertencente a esse grupo, tem a possibilidade de conhecer todos os medicamentos em uso ou que venham a ser prescritos, garantindo assim maior “contribuição à educação em relação à automedicação, além da prevenção de complicações relacionadas às interações medicamentosas e reações adversas”, afirmam os autores.

SUS
As exigências do Sistema Único de Saúde visando ao acesso da pessoa que necessita de cuidados especiais à atenção farmacêutica, começam nas farmácias com infraestrutura adaptada que permita acessibilidade, independentemente de idade, estatura, deficiência ou mobilidade reduzida, garantindo a utilização de maneira autônoma e segura em todo espaço físico. A declaração está contida no recém-lançado livro do Conselho Federal de Farmácia (CFF), “O Farmacêutico na Assistência Farmacêutica do SUS: Diretrizes para Ação”.
De acordo com o livro, em relação às pessoas com deficiência visual, criar meios e métodos que permitam aos próprios pacientes desenvolverem sua autonomia é um quesito fundamental para o farmacêutico que atua no âmbito da rede de cuidado às pessoas com deficiências.
Estratégias como bulas em formato especial são indicadas pela RDC nº 47/2009, cujos recursos tecnológicos podem ser disponibilizados em meio magnético, óptico ou eletrônico, digital ou áudio, ou impressos em braile.
O Ministério da Saúde reforça que as bulas especiais devem ser concedidas gratuitamente pelos laboratórios fabricantes de medicamentos.
Quanto ao farmacêutico, o livro do CFF sugere que os profissionais desenvolvam estratégias para trabalhar a utilização dos medicamentos com esses pacientes. Uma opção, nesse caso, pode ser a manipulação: “associar diversos princípios ativos em um único medicamento; envazar medicamentos em embalagens diferenciadas, o que facilitaria o reconhecimento; ou produzir novas formas farmacêuticas, para diferenciar os medicamentos a serem utilizados”, pontua o livro.

DEFICIÊNCIA AUDITIVA
Segundo o IBGE (Censo demográfico 2010), há 9,7 milhões de pessoas com deficiência auditiva no Brasil, muitos dos quais também têm problemas relacionados à fala. A maior causa de surdez no país, segundo o Instituto Nacional de Educação para Surdos (Ines), são traumas na cabeça associada à perda de consciência ou fratura craniana; medicação ototóxica; e infecção de ouvido persistente ou com duração de mais de três meses, além da surdez congênita.
Diante desse quadro a especialização do farmacêutico, é de vital importância para o cumprimento de seu dever profissional, promovendo, com isso, uma assistência humanizada que refletirá diretamente na qualidade de vida do paciente surdo.
Para o farmacêutico e coordenador da Comissão de Saúde Pública da seccional do CRF-SP de Araraquara, dr. Pedro Roberto Cabral, o farmacêutico deve adequar sua fala respeitando as crenças, os valores, os limites físicos, intelectual, social e mental do paciente.
Os surdos são um grupo linguístico minoritário, porém, possuem uma língua própria regulamentada pela Lei nº 10.436, de 24 de abril de 2002 (Língua Brasileira de Sinais - Libras). “Se o profissional aprender essa língua, a deficiência deixará de existir e a comunicação será eficaz, abrindo um leque de possibilidades positivas em relação à qualidade de vida do paciente”, afirma.
Nesse sentido, dr. Cabral se especializou em Libras. “Temos de utilizar ferramentas para que a comunicação seja eficaz. A saúde está assegurada na Constituição Federal como um direito de todos. Cabe a cada um de nós fazer valer esses direitos, nos conscientizando da importância da promoção do acesso da comunidade surda à assistência farmacêutica, mostrar caminhos a serem traçados para a melhoria deste tipo de acesso”, ressalta.
Para ele, a disciplina de se adequar para atender pacientes é motivacional. “Quando trabalhava em uma drogaria, presenciei alguns pacientes surdos acompanhados de seus cuidadores que serviam de ponte para comunicação. Isso me motivou a aprender Libras e a prestar atendimento igualitário ao surdo como a qualquer outra pessoa. Me senti o melhor farmacêutico do mundo, quando um casal surdo veio à drogaria com uma receita e com o pouco que sabia, consegui explicar a indicação, posologia, formas de preparo, armazenamento. Enfim, me agradeceram pela explicação e por atendê-los em sua língua. Fiquei com aquela satisfação incrível por cumprir plenamente minha obrigação como ser humano e profissional”, conta.

 

 

Por Mônica Neri
(com informações de Marcelo Staffa)

 

 


  

 

     

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