ESTABELECIMENTOS REGISTRADOS

PROFISSIONAIS INSCRITOS ATIVOS

Revista do Farmacêutico

PUBLICAÇÃO DO CONSELHO REGIONAL DE FARMÁCIA DO ESTADO DE SÃO PAULO
Nº 120 - FEV-MAR / 2015 

 

Nova geração de antibióticos

Cientistas americanos descobrem substância promissora para derrotar bactérias resistentes; último medicamento surgiu nos anos 80 e a maioria, entre 1950 e 1960

Professor Kim Lewis, da Northeastern University, é o lider da pesquisa que descobriu nova substância na luta contra superbactéria (Divulgação / Northeastern University) Professor Kim Lewis, da Northeastern University, é o lider da pesquisa que descobriu nova substância na luta contra superbactéria (Divulgação / Northeastern University)

Após quase três décadas, cientistas da Northeastern University, de Boston, Estados Unidos, descobriram uma nova ferramenta para combater os microrganismos resistentes a antibióticos.

Publicado na revista científica Nature, o estudo retrata a capacidade da substância teixobactin, extraída de bactérias do solo, em combater as bactérias já resistentes aos antimicrobianos disponíveis, a maioria descoberta entre 1950 e 1960, sendo o último em 1987.

No Brasil, boletim divulgado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) apresentou, em 2012, o número de dez mil casos de pacientes contaminados por bactérias resistentes a medicamentos nas UTIs do país.

De acordo com o farmacêutico especialista em antimicrobianos dr. Fernando Del Fiol, que também é reitor da Universidade de Sorocaba (Uniso), a luta no combate às bactérias já completa 75 anos, sem perspectiva de vitória.

“Temos de imaginar que esses organismos vivem em nosso planeta há milhões de anos, com espantosa capacidade de adaptação. Não se pode supor que substâncias químicas como antibióticos darão conta de acabar com esses organismos. Nosso desafio é conviver com elas (bactérias), de forma a evitar infecções e, quando necessário e somente quando necessário, utilizarmos antibióticos”, alerta.

Para chegarem ao teixobactin, pesquisadores desenvolveram um método de cultivar as bactérias no próprio solo, utilizando uma “câmara de difusão”. Nesse espaço, os microrganismos foram isolados em câmaras individuais, prensadas entre duas membranas semipermeáveis e enterrados no solo, garantindo que as bactérias ficassem expostas a outras substâncias e gerassem colônias grandes o suficiente para serem levadas ao laboratório.

Dr. Del Fiol observa que a descoberta do fármaco traz nova esperança para tratar infecções não somente por ser novo, mas por possuir um mecanismo de ação diferente, o que abre a perspectiva para a introdução de novos agentes. “Sem dúvida, é uma luz e um novo caminho, pois o fármaco veio de um organismo pouco comum, retirado do solo. Há uma infinidade de microrganismos no solo que nunca foram testados e, a partir de agora, com a pesquisa, abre-se uma grande possibilidade da descoberta de outros novos fármacos”, analisa.

Para o especialista, durante os 25 anos em que atua com fármacos, já existiram muitos “momentos promissores” e que, por isso, é necessário aguardar com a devida cautela antes de comemorar.
“Importante lembrar que esse novo fármaco atua somente em gram positivos, com ação muito discreta, ou quase nula, sobre os gram negativos”, ressaltou.
Dr. Del Fiol aponta ainda que a própria história das descobertas ensina que a natureza impõe desafios para os cientistas, mas ela mesma, na maioria das vezes, acaba apresentando a solução. “Basta procurar direito”, conclui.

Por Monica Neri

 

Conteúdo acessível em libras usando o VLibras Widget com opções dos Avatares Ícaro ou Hozana. Conteúdo acessível em libras usando o VLibras Widget com opções dos Avatares Ícaro ou Hozana.