Revista do Farmacêutico 112 - Artigo

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PUBLICAÇÃO DO CONSELHO REGIONAL DE FARMÁCIA DO ESTADO DE SÃO PAULO
Nº 112 - JUL-AGO  / 2013

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Serviços farmacêuticos: uma oportunidade ou o futuro da profissão farmacêutica?

Foto: Divulgação
Dr. Manuel Machuca González, Sociedade Espanhola de Otimização da Farmacoterapia (tradução Renata Gonçalez, com a colaboração da dra. Marcia R. V. Pauferro) (Foto: Divulgação)

Depois de muitos anos, os farmacêuticos continuam debatendo sobre a oportunidade que os serviços farmacêuticos agregam a sua prática diária. Apesar deste debate, e apesar de países como o Brasil terem incorporado a atenção farmacêutica no âmbito dos currículos universitários, estes serviços ainda não estão implementados. E, ao contrário do que se possa pensar, as principais vítimas não são os farmacêuticos - únicos responsáveis pelo fato de que estes serviços continuem sendo uma utopia - mas sim os pacientes, ou melhor, a sociedade e o país inteiro.

Não vou apontar causas específicas relacionadas ao que acontece no Brasil, mas vou indicar o que está acontecendo no mundo, apesar de que cada país pode ter algumas particularidades. Estas particularidades não são as principais causas, mas apenas variações daquelas que têm relação com o mundo inteiro:

1. Os farmacêuticos ainda não entenderam o que significa a Atenção Farmacêutica.

A assistência farmacêutica surgiu com a mesma filosofia da Pharmaceutical Care dos Estados Unidos  como a resposta para um problema social: os pacientes vinham utilizando cada vez mais medicamentos na esperança de aumentar sua expectativa de vida. Esses medicamentos produziram mudanças significativas na saúde dos pacientes, compartilham das mesmas vias metabólicas para tratar problemas muito diferentes e, na grande maioria dos casos (mais de 60% de acordo com algumas publicações), sem obter o efeito desejado, tendo de utilizar recursos de saúde mais caros com consequências econômicas indiretas, especialmente no que toca ao sistema de previdência social.Se os medicamentos são o recurso mais econômico para combater a doença, não obter os efeitos desejados representa um custo surpreendente em termos financeiros e um entrave para a sociedade. A droga mais cara não é simplesmente a de maior custo, mas sim aquela que resultará no pior efeito para o paciente. Resolver este problema é o único objetivo da Atenção Farmacêutica.


2. Farmacêutico e farmácia não são a mesma coisa.

Um farmacêutico é um profissional de cuidados que exerce uma atividade particular, assim como o médico, o enfermeiro, o advogado, o arquiteto, e assim por diante. Seu reconhecimento profissional vem da complexidade de seu trabalho e da capacidade de resolver os problemas fundamentais da sociedade.

Já a farmácia é um estabelecimento sanitário, com funções, atividades e responsabilidades que a sociedade, na forma de leis, lhe designa para atender e lhe fornece uma forma específica de compensação econômica.

Atualmente, a sociedade demanda que as farmácias facilitem o acesso ao medicamento com segurança, garantindo tanto a conservação adequada do produto, quanto as informações corretas para o uso adequado, em troca de uma parte do preço de venda. Portanto, a sociedade entende que farmacêuticos melhor remunerados são os que mais vendem, desde que o façam de forma a garantir que o medicamento esteja em boas condições e que forneçam as informações corretas quanto ao uso. Se a sociedade quer que os farmacêuticos que trabalham em farmácias realizem outras atividades, tem de planejar a melhor forma para que eles realizem essas tarefas; mas, se a sociedade identifica uma maneira diferente, mais econômica e tão segura quando ter farmacêuticos nas farmácias para garantir o acesso a medicamentos, poderá prescindir deles.


3. Todas as atividades profissionais, em qualquer área, têm uma forma de retribuição caso pretendam assumir responsabilidades para a sociedade.

Em cada atividade profissional, assumem-se certas responsabilidades e geram-se recursos para a sociedade em termos econômicos, além de benefícios em termos de qualidade de vida. Os serviços farmacêuticos salvam vidas e contribuem para diminuir o sofrimento das pessoas. Portanto, investir na sua implementação é extremamente benéfico; já o contrário, pode representar uma catástrofe ética e humanitária.

4. Águas paradas apodrecem e são fontes de infecção.

 

Foto: Renata Gonçalez
Dr. Manuel Machuca durante o Seminário Internacional: A arte de ser farmacêutico, promovido pelo CRF-SP em 2011 durante as comemorações aos 50 anos da entidade (Foto: Renata Gonçalez)

Quando algo demora tanto tempo a ser implementado, surgem os responsáveis por essa situação, ainda que em seus discursos se lamentem disso e até apontem os culpados. Essa culpabilidade é observada de forma difusa: a profissão, os médicos, os pacientes, os políticos... De modo que continuem aparentando inocência frente ao fracasso.

 


5. Mudar não depende de ninguém, salvo nós mesmos.

As profissões são capacitadas para apontar os caminhos necessários para que possam evoluir. São os profissionais de excelência que se encarregam de descobrir novas áreas de atuação. O restante tem de escolher entre acreditar que essas mudanças possam chegar para todos e ser o caminho natural da evolução, ou, inversamente, opor-se radicalmente a qualquer mudança, na esperança de que as consequências desta atitude, o desaparecimento, não chegue antes do final de sua carreira.


6. Yes, we can

É bem verdade que este slogan já ficou bem antigo, mas não tão antigo quanto o desejo de uma mudança de carreira e de tornar-se mais útil para a sociedade, mudança que a falta de estratégia e a falta de vontade real não haviam permitido até agora. Mas, apesar de tudo, você pode, é possível e há de consegui-lo.

 

Dica do congresso:

O tema “Serviços farmacêuticos: uma oportunidade ou o futuro da profissão farmacêutica” será abordado em uma mesa-redonda em 06/10  no XVII Congresso Paulista de Farmacêuticos. Programação: www.crfsp.org.br/congresso

 

 

 

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