Sou farmacêutica clínica e atuo em consultório independente. Na época da graduação, cumpri estágio curricular em um hospital público de grande porte em São Paulo. Quando terminava minhas atividades diárias na dispensação ambulatorial, saía em visita aos setores do hospital para aprender sobre seu funcionamento.

Numa dessas visitas junto com um colega, encontramos uma senhora no pronto atendimento com inúmeras lesões na face. Observando a paciente mais de perto, percebemos que as lesões estavam infestadas de larvas. Com muita dificuldade, ela nos disse que onde morava havia muitas moscas e que estava com muita dor. Até aquele momento, não havia sido convenientemente atendida. Ela tinha câncer na boca e estava há muito tempo aguardando atendimento.

Aquela situação mexeu conosco. Procuramos mais informações sobre a paciente e alertamos a enfermagem sobre a necessidade de um pronto atendimento naquele caso. Voltando à farmácia, solicitamos ajuda de nosso preceptor farmacêutico. A pesquisa na literatura indicou que uma solução oleosa com calomelano provocaria a expulsão daqueles parasitas quando aplicada diretamente na lesão. 

O diretor da farmácia solicitou autorização ao diretor clínico para tentar essa intervenção, totalmente empírica.  Autorização dada, eu e meu colega nos incumbimos de tal procedimento e logo tivemos resultado positivo. Com uma pinça na mão e o coração compadecido pelo enorme sofrimento daquela senhora, retiramos todas as larvas das lesões daquela face sofrida. Após esses cuidados, ela deu prosseguimento ao seu tratamento no setor de oncologia do hospital. Quando me lembro que fiz algo de bom por alguém sendo farmacêutica, sempre me vem ao pensamento esse caso. Nunca me esqueci daquela senhora.

Dra. Luciana Cristillo Mendes, Osasco - SP

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