Informe do Conselho Regional de Farmácia do Estado de São Paulo (CRF-SP) sobre o tratamento precoce da covid-19

 

São Paulo, 31 de março de 2021

Informe do Conselho Regional de Farmácia do Estado de São Paulo (CRF-SP) sobre o tratamento precoce da covid-19

A covid-19, doença causada pelo vírus SARS-CoV-2, apresentou pico de crescimento no Brasil no mês de março de 2021, com alto índice de contaminação e mortalidade. A situação atual é grave, contudo, isso não justifica a publicação de protocolos de tratamento sem a devida comprovação científica.

No que refere ao uso da cloroquina / hidroxicloroquina destacamos alguns pontos:

  1. Até o presente momento não existem trabalhos científicos que comprovem a efetividade na prevenção ou no tratamento precoce da covid-19;
  2. O fármaco apresenta reações adversas graves como retinopatia e distúrbios cardiovasculares;
  3. Há risco de aumento do prolongamento do intervalo QT, aumentando o risco de ocasionar uma arritmia potencialmente fatal;
  4. Devem ser utilizadas com cautela em pacientes com distúrbios cardíacos, hematológicos, hepáticos, neurológicos, renais e gástricos e não é recomendada a sua utilização em gestantes, devido à ausência de estudos que avaliam a segurança deste medicamento neste grupo de pacientes.

Em relação ao uso da ivermectina destacamos:

  1. Até o presente momento não existem trabalhos científicos que comprovem a efetividade no tratamento precoce da covid-19;
  2. Somente houve comprovação da ação antiviral deste medicamento in vitro;
  3. Já foram descritas adaptações dos parasitas com o uso da ivermectina, ou seja, a sua utilização de forma descontrolada poderá causar processos de resistência ainda desconhecidos;
  4. A utilização da ivermectina acima da dose terapêutica recomendada (200mcg/Kg) pode causar reações adversas preocupantes, como confusão, mudança no estado mental, problemas de equilíbrio e dificuldade para caminhar. Ela ainda pode promover alterações visuais e erupções na pele;
  5. O uso da ivermectina pode causar aumento na frequência cardíaca e dificuldade respiratória. Estas reações adversas podem ser confundidas com os sintomas da covid-19, prejudicando o correto diagnóstico médico e, assim, dificultando o tratamento do paciente;
  6. A ivermectina utilizada em associação com a azitromicina apresenta uma interação medicamentosa preocupante: aumento da concentração plasmática da ivermectina, em torno de 30%, fato que intensifica as suas reações adversas.
  7. Entidades e instituições, como FDA, NHI e Associação Médica Brasileira, assim como o laboratório Merck (um dos detentores da patente da ivermectina), já se manifestaram contrários ao uso de ivermectina e outros fármacos no tratamento precoce da covid-19.

Consideramos que a decisão sobre a prescrição é uma prerrogativa do médico, mas cabe ao farmacêutico esclarecer ao paciente para que serve o medicamento e a forma de uso, orientando-o sobre os riscos da utilização. Caso haja necessidade de realizar a dispensação, deverá implantar medidas para garantir o acompanhamento farmacoterapêutico e a avaliação de eventuais reações adversas com a respectiva notificação, gerenciamento e intervenção rápida, como o encaminhamento precoce destes pacientes para o acompanhamento médico onde possam ser tomadas as medidas clínicas pertinentes.

Esse é o papel que cabe a nós, não somos entregadores de caixinhas, somos profissionais do medicamento.

Importante destacar que a venda destes medicamentos sem prescrição médica contraria a legislação vigente, o que pode impactar em processos cíveis e éticos.

O mesmo se aplica aos farmacêuticos, em relação a divulgação de informações que não garantem o uso racional de medicamentos, como por exemplo: fake news, notícias que incentivam o uso, dentre outras.

Destaca-se que o uso racional de medicamentos sempre foi uma bandeira da profissão farmacêutica, que conhece claramente os riscos da utilização de medicamentos sem necessidade e lutou durante, por anos, para que esse conceito fosse difundido para a sociedade e também para outros profissionais de saúde.

O CRF-SP entende a necessidade de um tratamento e/ou prevenção eficazes contra a covid-19, somente assim os riscos poderão ser diminuídos, contudo, no atual momento, as experiências reconhecidas e pautadas pela ciência demonstram que as formas para desacelerar as curvas de crescimento são o isolamento social e a vacinação da população.

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Posicionamentos das Instituições:

https://www.merck.com/news/merck-statement-on-ivermectin-use-during-the-covid-19-pandemic/

https://www.fda.gov/consumers/consumer-updates/why-you-should-not-use-ivermectin-treat-or-prevent-covid-19

https://www.ema.europa.eu/en/news/ema-advises-against-use-ivermectin-prevention-treatment-covid-19-outside-randomised-clinical-trials

https://www.covid19treatmentguidelines.nih.gov/antiviral-therapy/ivermectin/

 

 

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