HU da USP é referência em ensino em Farmácia Clínica
São Paulo, 15 de setembro de 2014.
Que impacto trará a desvinculação do Hospital Universitário da Universidade de São Paulo? Está é a dúvida que surge após o reitor Marco Antônio Zago levar a proposta de desvinculação do HU ao Conselho Universitário (CO), órgão máximo da Universidade. A direção da USP alega que para sanar as finanças da USP é necessário transferir o hospital para a Secretaria do Estado da Saúde, argumento contestado por docentes e funcionários.
Para os 46 farmacêuticos que trabalham na Farmácia e no Laboratório Clínico do hospital, as perspectivas são as piores possíveis. Todos os possíveis cenários direcionam para um comprometimento na qualidade do ensino praticado na instituição e na assistência prestada à população do distrito do Butantã, zona oeste da capital.
O HU foi criado para ser um hospital-escola e recebe alunos de graduação e pós-graduação de seis unidades da área de saúde da USP (Farmácia, Enfermagem, Medicina, Psicologia, Saúde Pública e Odontologia). Com forte vocação para o ensino, a instituição proporciona um ambiente favorável para a realização de um trabalho realmente multidisciplinar, onde há espaço para a discussão dos casos por diferentes enfoques profissionais, sendo a conduta estabelecida pelo consenso. Certamente há um grande benefício para o paciente atendido nestes moldes, mas há de se ressaltar que os alunos que vivenciam estas relações irão disseminar uma experiência irreprodutível em sala de aula.
“O HU é muito importante para atender as necessidades da população local, mas também é fundamental para formar profissionais qualificados que irão prover assistência adequada nas mais distantes regiões do Brasil”, afirma a chefe técnica de departamento de Farmácia e Laboratório do HU, dra. Eliane Ribeiro.
O laboratório clínico do HU recebe alunos de graduação e pós-graduação em suas dependências para a realização de disciplinas práticas. Os alunos têm a oportunidade de aprender, de forma mais realista, as atividades desempenhadas pelos farmacêuticos em um laboratório em pleno funcionamento. “Será uma perda irreparável”, diz dra. Eliane.
Há mais de 20 anos a Farmácia Hospitalar do HU destaca-se na prática da Farmácia Clínica, formando alunos de graduação e pós-graduação de distintas escolas de ensino superior. De acordo com o farmacêutico dr. Gustavo Galvão de França, chefe técnico da Divisão de Farmácia do HU, a equipe altamente qualificada do HU é o maior patrimônio. “A desvinculação vai afetar a manutenção deste quadro de profissionais, ponto crucial para a qualidade da assistência à comunidade e para a formação da população acadêmica”, sustenta.
“Enxergo um futuro sombrio. Vai inviabilizar o ensino. À medida que os profissionais se aposentarem, não haverá reposição de vagas. Haverá grande rotatividade de funcionários. Conhecemos exemplos disto em outras instituições. O aluno na enfermaria sem o respaldo de um farmacêutico capacitado não desenvolve um aprendizado adequado”, completa dr. França.
Somente em 2013, o Hospital Universitário da USP realizou 282 mil atendimentos de emergência, 12 mil consultas ambulatoriais, 13 mil internações, 48 mil cirurgias, 3.543 partos, 140 mil exames de imagem e 965 mil exames laboratoriais. Esses últimos foram de responsabilidade da Divisão de Laboratório Clínico (DLC) do hospital, que conta com assistência farmacêutica em tempo integral e tem atualmente em seu quadro 31 farmacêuticos qualificados, sendo que três são doutores, oito mestres, 14 especialistas e sete graduados.
A DLC realiza também apoio ao ensino, pesquisa e residência multiprofissional, ampliando o nível de conhecimento e aperfeiçoamento dos profissionais da área de análises clínicas. Entre as atividades de destaque da Divisão estão a parceria com a coordenadoria de vigilância em saúde de São Paulo, o laboratório ensino e o programa de residência clínica e atenção farmacêutica.
Outro lado
Procurada pela Assessoria de Comunicação do CRF-SP, a assessoria de imprensa da USP informou que a proposta de vinculação do Hospital Universitário ainda será discutida no Conselho Universitário. Na última reunião do Conselho, no dia 2/9, foi nomeada uma comissão, formada por representantes de docentes, alunos e funcionários técnico-administrativos, que fará os estudos sobre essa vinculação.
A comissão terá o prazo de trinta dias para a análise para posterior discussão no Conselho. De acordo com a proposta, o Hospital Universitário poderia ser incorporado como um instituto ligado à autarquia especial do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina.
Puxão de orelha
O Pediatra do HU, dr. Gabriel Ventura, destacou a importância do farmacêutico na enfermaria e reforçou os benefícios da presença de profissionais de áreas afins trabalhando em conjunto, a multidisciplinaridade. Relatou que no dia-a-dia estudam juntos os medicamentos, as indicações, as correções, além das prescrições.
“Os farmacêuticos vivem puxando as orelhas dos médicos com relação às prescrições. A gente tem uma interdisciplinaridade muito forte. Os farmacêuticos participam da visita nas enfermarias e nas UTIs. Temos um relacionamento muito saudável aqui”, diz o Dr. Ventura.
A farmacêutica Maria Caroline Carvalho de Moura, trabalha em um hospital municipal, na zona leste da capital, e participa do Curso de Prática Profissionalizante em Farmácia Clínica e Atenção Farmacêutica no HU. Ela conta que atua há 10 anos na área, e que nunca conheceu um hospital com um Serviço de Farmácia Clínica tão diferenciado como o do HU. “Aqui pude presenciar a humanização e a ética na rotina diária. A qualidade de ensino é admirável. Com a desvinculação poderemos ficar sem referência”, elogia dra. Moura.
Posição do governo
Segundo reportagem dos jornais Folha de S.Paulo e O Estado de S. Paulo no último dia 12, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) disse que o Estado não assumirá a gestão do Hospital Universitário da USP, recusando proposta da reitoria da USP.
Marivaldo Carvalo e Mônica Neri
Assessoria de Comunicação CRF-SP
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