Revista do Farmacêutico 114 - Farmácia Clínica

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PUBLICAÇÃO DO CONSELHO REGIONAL DE FARMÁCIA DO ESTADO DE SÃO PAULO
Nº 114 - NOV-DEZ / 2013

Revista 114 setinha Farmácia Clínica

 

Racionalização do uso de antimicrobianos

Atuação do farmacêutico ganha importância junto à equipe multidisciplinar e pode auxiliar o médico na escolha da melhor terapêutica para infecções

O tratamento de infecções vem sofrendo significativas mudanças nos últimos anos e o uso racional dos antimicrobianos é uma alternativa ao combate às bactérias multirresistentes. Por causa dessa necessidade e graças ao avanço e aprimoramento da farmácia clínica, o farmacêutico vem ganhando cada vez mais importância junto à equipe multidisciplinar, especialmente na infectologia, já que seus conhecimentos podem ser essenciais para auxiliar o médico na escolha da melhor terapêutica.

Foto: Wavebreak Media/LatinstockNa avaliação da Comissão Assessora de Farmácia Clínica do CRF-SP, essa integração já proporcionou avanços importantes no combate à resistência bacteriana mas, especialmente, no reconhecimento da profissão farmacêutica. “É uma experiência muito produtiva, porque podemos oferecer o melhor tratamento devido a uma avaliação multidisciplinar. Também é uma grande oportunidade de desenvolver nossos conhecimentos, estando diretamente em contato com os profissionais médicos e conhecendo melhor o ponto de vista destes profissionais”, afirma o dr. Lucas Cabral, membro da Comissão, mestrando em infectologia pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e membro do Grupo de Racionalização de Antimicrobianos em Pacientes Críticos, do Hospital São Paulo.

O farmacêutico colabora para que a escolha do tratamento antimicrobiano seja realizada sempre com cautela, pois o uso indiscriminado pode favorecer a evolução genética bacteriana por exposição ao antimicrobiano e, deste modo, favorecer o surgimento de micro-organismos multirresistentes. “Sempre que possível, o farmacêutico clínico deve sugerir o descalonamento da terapêutica, ou seja, evitar o uso de antimicrobianos de maior potência em doses elevadas em infecções passíveis de tratamento com aqueles de menor potência.”

 Esta integração de conhecimentos também é defendida pelos médicos especialistas da área, a exemplo do dr. Guilherme Henrique Campos Furtado, infectologista do Hospital São Paulo e Hospital do Coração, que lidera um grupo de racionalização de antimicrobianos em unidades de terapia intensiva. Sua equipe desenvolve um importante trabalho que contribui com a evolução clínica em doentes críticos, que dependem de uma correta e rápida avaliação da conduta terapêutica. 

Graças a esse trabalho, o grupo avançou nos conhecimentos de farmacocinética e farmacodinâmica de antimicrobianos e isso tem ajudado nas condutas à beira do leito. “O farmacêutico participa intensamente das discussões, analisando interações medicamentosas e contribuindo com os médicos nessa importante avaliação em que os médicos não são bem familiarizados. Com isso há uma perfeita interação nas visitas diárias às UTIs.”

“Pacientes de UTI são extremamente sensíveis a alterações farmacocinéticas, a exemplo do aumento de clearance e volume de distribuição, que levam comumente a mudanças na concentração plasmática dos antimicrobianos, principalmente os hidrofílicos, como os beta-lactâmicos e glicopeptídios”, explicou o médico, que também é professor da Escola Paulista de Medicina (EPM) e Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e possui pós-doutorado nos Estados Unidos, pelo Centro de Desenvolvimento e Pesquisa, Divisão de Doenças Infecciosas do Hospital Hartford, em Connecticut.

Foto: Image Source/Latinstock

Experiência americana

No período em que esteve nos Estados Unidos realizando seu pós-doutorado, entre os anos de 2010 e 2011, o dr. Guilherme observou de perto a atuação dos farmacêuticos clínicos daquele país. “Lá existe o profissional especializado em doenças infecciosas (ID pharmacist), uma área de atuação que ainda não existe no Brasil. Foi um período muito proveitoso, pois tive contato com vários farmacêuticos pesquisadores do centro.”

 O especialista percebeu a intensa produção científica realizada pelos farmacêuticos sobre antimicrobianos já lançados, mas também com drogas ainda em investigação. Quando participou de atividades de um grupo de racionalização de antimicrobianos, no Brigham and Women´s Hospital, em Boston, verificou que as atividades eram executadas por um farmacêutico que avaliava diariamente as prescrições de antimicrobianos controlados de acordo com protocolos clínicos de tratamento.

O médico utilizou esta experiência como base para desenvolver o projeto de racionalização de antimicrobianos aqui no Brasil. Outra proposta sugerida pelo especialista, ainda em discussão, é a implantação de uma residência multidisciplinar em Infectologia, com a participação de farmacêuticos.

Na sua avaliação, o futuro da atuação do farmacêutico estará cada vez mais ligado ao trabalho da equipe multidisciplinar e auxiliando o médico na conduta terapêutica. Ele afirma que essa contribuição se estenderá para outras áreas da Infectologia, como na terapêutica de pacientes com HIV e hepatites B e C, onde há contínuo avanço e uma variedade de novas drogas antirretrovirais.

O dr. Guilherme considerou ainda que existe um longo caminho a percorrer até que a atuação farmacêutica atinja o nível de desenvolvimento dos países de primeiro mundo, mas percebe um interesse crescente de farmacêuticos que estão desenvolvendo pesquisas focadas na adequação terapêutica de antimicrobianos nas principais infecções em doentes críticos.

Carlos Nascimento

 

 

 

 

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