Revista 108 - Farmácia Clínica



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PUBLICAÇÃO DO CONSELHO REGIONAL DE FARMÁCIA DO ESTADO DE SÃO PAULO
Nº 108 - AGO - SET - OUT / 2012

Revista 108 setinha Farmácia Clínica

 

Residência, Especialização ou Aprimoramento?

As estratégias para o aperfeiçoamento profissional em Farmácia Clínica no Brasil

Dra. Maria Gabriela atende paciente durante seu programade Aprimoramento no Hospital das Clínicas, em São Paulo (Foto: Arquivo pessoal)
Dra. Maria Gabriela atende paciente durante seu programade Aprimoramento no Hospital das Clínicas, em São Paulo (Foto: Arquivo pessoal)

Qual é a melhor alternativa de aperfeiçoamento profissional para quem pretende atuar ou seguir carreira na área de farmácia clínica? Uma das atividades em franco desenvolvimento no setor farmacêutico, a área clínica demanda profissionais bem capacitados, com conhecimento em práticas terapêuticas, capacidade de julgamento e tomada de decisão. Essas características são identificadas pela sigla CHA (conhecimento, habilidade e atitude), competências necessárias para que o farmacêutico compartilhe os resultados clínicos com os demais membros da equipe de saúde.

Entre as possibilidades de aperfeiçoamento na área destacam-se a residência, a especialização e o aprimoramento. Cada uma delas possui características distintas e contribui para desenvolver diferentes habilidades e conhecimentos.

Para a coordenadora da Comissão de Farmácia Clínica do CRF-SP, dra. Solange Bricola, o ensino especializado, independentemente da modalidade, busca minimizar as deficiências de formação durante a graduação. "A formação em Farmácia ainda permanece tecnicista e muito pouco humanista, trazendo a lacuna da convivência com a equipe de saúde e, fundamentalmente, com o próprio paciente", afirma. 

Veja a seguir as características e possibilidades de cada uma dessas estratégias de aperfeiçoamento profissional.

Residência

A residência farmacêutica foi aprovada como Lei pelo Congresso Nacional no dia 30 de junho de 2005, recebendo o número 11.129/2005. Ela é caracterizada como ensino de pós-graduação lato sensu, voltada para a educação em serviço e é desenvolvida em regime de dedicação exclusiva. Além disso, tem atuação integrada entre teoria e prática farmacêutica.

Mesmo antes de se tornar lei, algumas universidades e organizações profissionais, em parcerias com hospitais, já haviam criado as suas residências em Farmácia. A primeira foi a Faculdade de Farmácia da Universidade Federal Fluminense, em Niterói (RJ), em 1998.

Porém, somente após 2005, as residências tomaram forma no Brasil e no estado de São Paulo, como é o caso dos programas da Universidade de São Paulo e da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Mesmo assim, de acordo com um estudo apresentado pela graduanda de Farmácia, Carolina Freitas, e o professor dr. Marc Strasser, da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP no 2° Congresso Brasileiro de Farmacêuticos Clínicos, ainda há um baixo oferecimento de residência na área, o que demonstra o atual déficit para capacitação de farmacêuticos em atividades clínicas.

Para o residente em Farmácia Clínica da Unifesp, dr. Belmiro Júnior, o programa de residência farmacêutica multiprofissional requer do profissional, além dos conhecimentos farmacológicos, um perfil investigativo e curioso sobre as outras áreas da saúde. "Recebemos capacitação teórica e somos inseridos no ambiente hospitalar para reunirmos fragmentos de saberes da equipe multiprofissional a fim de propiciar um intercâmbio de conhecimentos. A partir disso, monitoramos, intervimos e contribuímos para a segurança e eficácia no atendimento através da análise farmacoterapêutica necessária." 

Especialização

Os cursos de pós-graduação lato sensu em nível de especialização têm por objetivo proporcionar conhecimentos científicos e práticos relacionados a questões técnicas, incluindo a assistência farmacêutica, e ampliar as discussões sobre o uso correto do medicamento, a redução do tempo de internação e como melhorar a adesão dos pacientes ao tratamento. Além disso, as especializações fornecem ferramentas aos profissionais para que eles se atualizem em farmacoterapia, na educação e na orientação ao paciente.

De acordo com a especialista em Farmácia Clínica, dra. Lívia Maria Gonçalves, as especializações contribuem bastante para o desenvolvimento da área clínica no Brasil. “Por serem geralmente frequentadas por profissionais que já atuam na área, as trocas de experiências entre os colegas da turma aumentam o nível de discussão sobre as perspectivas do setor e criam boas oportunidades de networking”. 

Dra. Lívia ressalta, no entanto, que os farmacêuticos devem procurar por pós-graduações que contemplem também a prática. “A maioria das especializações em Farmácia Clínica hoje se preocupam pouco com o contato prático. Isso torna o processo de aprendizado incompleto.”

Aprimoramento

Os aprimoramentos em Farmácia não se caracterizam como programas de pós-graduação lato sensu, mas como um treinamento de capacitação profissional. A metodologia utilizada tem ênfase no treinamento em serviço, sob supervisão de profissionais qualificados e acontece em instituições de saúde, universitárias ou não. Instituído em 11 de setembro de 1979 pelo Decreto estadual nº 13.919, o aprimoramento é um programa de bolsas do Governo do Estado de São Paulo focado em profissionais de nível superior que atuam na área da Saúde. O intuito é desenvolver as técnicas clínicas do farmacêutico, mostrar a importância da equipe multidisciplinar da saúde e dar visão crítica e abrangente do Sistema Único de Saúde para adequar os atendimentos às necessidades de saúde da população de São Paulo. O aprendizado consiste, principalmente, na prática clínica, mas não se abstém do ensino teórico em salas de aulas, com elaboração de seminários, monografias, discussões, etc.

Para a aprimoranda em Farmácia do Instituto Central do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo, dra. Maria Gabriela Borracha Gonçalves, o aprimoramento possibilita entender todos os aspectos da rotina do farmacêutico clínico, do paciente e das equipes multidisclipinares. 

"O contato com o supervisor e com a equipe multidisciplinar faz com que se entenda qual o papel de atuação de cada profissional e o que se espera do farmacêutico dentro desse processo. Além disso, a oportunidade de por na prática as questões vistas na teoria, tanto dentro da Faculdade, quanto no próprio programa, facilita a posterior inserção no mercado de trabalho do profissional dentro da área clínica. Isso é muito importante, já que a maioria dos aprimorandos são recém-formados ou farmacêuticos que querem iniciar a carreira na área", relatou dra. Maria Gabriela.

Mônica Neri

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